PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO

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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Centenário da morte de Aluísio Azevedo

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Numa pequena mesa, coberta por um pedaço de chita, com o tinteiro ao lado da caixinha de papel, a menina escrevia, enquanto o dono ou dona da carta ditava em voz alta o que queria mandar dizer à família ou a algum mau devedor de roupa lavada. E ia lançando tudo no papel, apenas com algumas ligeiras modificações, para melhor, no modo de exprimir a ideia. Pronta uma carta, sobrescritava-a, entregava-a ao dono e chamava por outro, ficando a sós com um de cada vez, pois que nenhum deles queria dar o seu recado em presença de mais ninguém senão de Pombinha. De sorte que a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor.

— Escreva lá, Nhã Pombinha! disse junto dela um cavouqueiro, coçando a cabeça; mas faça letra grande, que é pra mulher entender! Diga-lhe que não mando desta feita o dinheiro que me pediu, porque agora não o tenho e estou muito acossado de apertos; mas que lho prometo pro mês. Ela que se vá arranjando por lá, que eu cá sabe Deus como me coço; e que, se o Luís, o irmão, resolver de vir, que mo mande dizer com tempo, para ver se lhe dá furo à vida por aqui; que isto de vir sem inda ter p’ronde, é fraco negócio, porque as coisas por cá não correm lá para que digamos!

E depois que a Pombinha escreveu, acrescentou:

— Que eu tenho sentido muito a sua falta dela; mas também sou o mesmo e não me meto em porcarias e relaxamento; e que tenciono mandar buscá-la, logo que Deus me ajude, e a Virgem!
(...)

In: O Cortiço


Em janeiro de 2013 completa-se o centenário da morte de Aluísio Tancredo Belo Gonçalves de Azevedo (1857-1913). 

Romancista, contista, cronista, diplomata e jornalista, Aluísio Azevedo publicou sua primeira obra, Uma Lágrima de Mulher, em 1879. É autor de O Mulato (1881), Casa de Pensão (1884), O Cortiço (1890), dentre tantas outras, nas quais retrata a situação degradante das casas de pensão, a exploração dos imigrantes e o drama diário dos trabalhadores de sua época.

Fontes:

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